
Por uma grafia-demente: as formas expressivas de um mundo às avessas
O projeto pretende mapear e discutir um campo de relações e formas expressivas dos modos de ver, viver e narrar os processos demenciais a partir do ponto de vista de quem os vive, pensando na relação entre (auto) biografia e etnografia, palavra e imagem, e como o diagnóstico de demência tensiona noções como narrativa, doença, memória e pessoa. Para isso, fará uso de diferentes materiais, como autobiografias, blogs, obras de arte, falas, cenas, gestos, metáforas, bordados, vídeos, fotografias, recolhidos ao longo de minha trajetória de pesquisa no tema. Além da maioria dos estudos sobre doença de Alzheimer terem como foco o cuidador – e não o ponto de vista do doente -, relatos autobiográficos e outras formas expressivas de pessoas com demência é um fenômeno novo e crescente, que merece ser melhor investigado, sendo um importante contraponto ao discurso biomédico de “dissolução do self”. Nesse sentido, a pesquisa é uma importante contribuição para o preenchimento dessa lacuna, além de pensar novas maneiras de compreender a doença como um fenômeno complexo, plural e multifacetado. Além de artigos, grupos de discussão e realização de evento, o projeto propõe testar abordagens mais experimentais como maneiras de “pensar o pensamento do outro” ao levar a sério o “mundo às avessas” da demência, com outras coordenadas e referências. Além de investigar os limites e alcances da linguagem e de incorporar pessoas com demência como interlocutoras da pesquisa antropológica, este projeto pretende contribuir para ampliar a reflexão sobre essa enfermidade na área médica.