Webinário “Fecundações Cruzadas: concebendo corpo-pensamento entre filosofias ameríndias e epistemologias transfeministas”

Início
Período
-
Local
Online

Com muita alegria, anunciamos a realização do Webinário “Fecundações Cruzadas: concebendo corpo-pensamento entre filosofias ameríndias e epistemologias transfeministas”, que acontecerá nos dias 9 e 10 de dezembro. 

O Webinário é um esforço de explorar aproximações ainda inéditas entre dois universos conceituais: as filosofias ameríndias e as epistemologias transfeministas. Reconhecendo suas devidas diferenças, os dois campos mencionados compartilham de uma capacidade profícua de engajamento com práticas imaginativas que permitem vislumbrar outros futuros (in)comuns, de modo que a interface entre eles potencializa seu horizonte criativo. O objetivo do webinário é explorar uma "zona de contato" entre o pensamento ameríndio e o pensamento transfeminista, aproximando modos de percepção e de conhecimento dissidentes em relação ao racionalismo e à normalização moderno-ocidentais. Com este seminário se quer ampliar a conversa em torno das conexões possíveis entre esses dois universos conceituais.

Por filosofias ameríndias queremos exprimir os estilos de criatividade e pensamento correspondentes aos povos ameríndios, uma multiplicidade de formas de engajamento com problemas de ordem conceitual e material. Ao mesmo tempo em que desafiam a metafísica do Ser, tais filosofias parecem se dedicar à heterogeneidade, à multiplicidade e à propagação no nível da experiência pessoal. Se existem muitos mundos possíveis, esses mundos estão sempre relacionados a pessoas determinadas. Mundo para quem?, então. No centro das reflexões ameríndias está a possibilidade de se tornar outro, devir que se administra por meio das tecnologias corporais e de pensamento. As filosofias ameríndias estão marcadas por uma relacionalidade radical que coloca a identidade a serviço da diferença. Nesse contexto, os binarismos e oposições contrastivas são revogáveis ou provisórias, muitas vezes um recurso para modificar e proliferar.

Por epistemologias transfeministas buscamos sintetizar implicações sobre o modo de se produzir conhecimento a partir de uma perspectiva situada na experiência e no pensamento queer, nos estudos transviados e na crítica aos modos binários de pensamento que herdaram das movimentações trans uma forma própria de interrogar as normas, explorando as falhas, as intermitências, as linhas de fuga e os modos de (r)existência forjados por meio de saídas criativas frente àquilo que nos impede de seguir. Imaginamos a perspectiva epistemológica transfeminista a partir de uma dupla desconexão: primeiro uma desconexão analítica e experiencial com a heterossexualidade compulsória; em segundo lugar, uma desconexão semiótica e material com a "naturalidade" da diferença sexual. Essas duas desconexões permitem, enfim, instaurar novas conectividades.

Como resultado, esperamos que o seminário abra e impulsione caminhos possíveis para as conexões entre os dois campos de pensamento mencionados. Esperamos que a conversa inspire problematizações sobre a "consciência de si" que organiza a prática antropológica em termos epistemológicos. Este esforço reconhece, em primeiro lugar, a necessidade de deslocar sujeitos de enunciação e recepção pressupostos no conhecimento antropológico que conduzem a relações masculinistas, heteronormalizantes, raciais e coloniais, entre outras coisas. Esta discussão se faz imprescindível no momento em que o processo de democratização do acesso e da produção de conhecimento antropológico se encontra em risco, tanto no Brasil, quanto nos demais países das Américas. Por outro lado, parte da necessidade de simetrizar e pluralizar a antropologia, tendo em vista a presença fundamental e cada vez mais acentuada de pares indígenas, queer e negros, o que exige um recalibramento da partilha epistemológica por trás das práticas antropológicas. Este seminário demanda, assim, um corpo-pensamento que excede a heteronorma que dá contornos à tradição disciplinar e às formas convencionais de descrição antropológica.

Transmissão online: https://is.gd/fecunda

Organizadores do evento: Bru Pereira, Lucas Maciel e Diego Madias

Mais informações: fecundacoes.cruzadas@gmail.com

Calendário: Em breve