CEstA Tripla. Cultivar a mobilidade: Perspectivas arqueológicas e etnológicas

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sede do CEstA, Rua do Anfiteatro 181 - favo 8

O Centro de Estudos Ameríndios convida para o nosso evento CEstA Tripla,com Karen Shiratori, Laura Pereira Furquim e Leonardo Viana Bragadebatedor, Fábio Nogueira Ribeiro “O que eles comem?” Reflexões com os Zo’é sobre isolamentoLeonardo Viana Braga Mestre em Antropologia Social PPGAS/USP Assessor do Programa Zo’é PZ/Iepé Os Zo’é, povo tupi-guarani que vive atualmente na região noroeste do Pará, são um povo considerado de “recente contato” pelos órgãos oficiais brasileiros. Ao longo de três décadas de relação com os não indígenas atuais, pouco ou talvez nunca foram levados a pensar diretamente sobre tal caracterização. Tampouco a refletir sobre a situação de “povos isolados” ou em “isolamento voluntário”. Foi somente com a recente mudança estrutural da Funai que se passou a buscar uma relação mais horizontal com os Zo’é, sobretudo em termos de fornecimento de informações sobre os não indígenas e seus modos de pensar e viver. Aí se insere o trabalho do Iepé, colaborando com a elaboração do Plano de Gestão Territorial e Ambiental, PGTA, da Terra Indígena Zo’é. Nesse âmbito, são realizadas algumas conversas mais sistemáticas com os Zo’é a respeito da condição de indígenas em “isolamento voluntário”, buscando transmitir a eles os termos oficiais, mas não só. Com base nesse contexto de interlocução e formação mútua, procuro destacar algumas reflexões dos Zo’é sobre modos de vida distintos do seu, e como esses contrastes fazem conectar aspectos da territorialidade e da alimentação. Nem tudo que reluz é milhoSistemas de cultivo e mobilidade através da Arqueologia AmazônicaLaura Pereira Furquim Mestre em Arqueologia MAE/USP Doutoranda em Arqueologia MAE/USP A Arqueologia Amazônica vem dialogando, desde a sua formação, com um modelo de evolução humana que projeta ao passado as divisões de agrupamentos humanos do presente. Entre um período de grupos nômades vivendo da caça e coleta ao de grupos sedentários vivendo da agricultura intensiva, haveria um longo Estágio Formativo, no qual as bases materiais para que a “neolitização” da Amazônia ocorresse são formadas. Nos últimos dez anos de pesquisa, porém, alguns dos principais “kits” arqueológicos em que tal divisão se baseou vêm sendo desfeitos, tais quais aqueles que unem a produção de artefatos líticos lascados identificados em ocupações efêmeras aos primeiros, e aqueles que unem a produção cerâmica à grandes sítios com solos antropogênicos (principal sinal de sedentarismo) aos segundos. A arqueobotânica e a zooarqueologia (especialidades que se debruçam sob a relação das pessoas entre si através dos mundos vegetal e animal) têm trazido novos e interessantes dados que nos possibilitam borrar a fronteira da “necessidade” e da adaptação ambiental, e olhar com mais atenção às estratégias de cultivo, manejo e mobilidade no passado. Alguns sítios arqueológicos, como o sambaqui Monte Castelo e Tucumã, foram freqüentemente associados à grupos com alta mobilidade, mas vêm apresentando sinais de práticas de cultivos perenes como o milho. Outros, como o Sol de Campinas do Acre, vêm sendo relacionados à grupos “complexos” e sedentários, porém sua estratigrafia aponta para uma construção do espaço em etapas espaçadas, indicando sua reocupação ao longo do tempo. Deste modo, serão utilizados alguns estudos de caso de distintos períodos da ocupação humana na Amazônia, a fim de promover uma fertilização do pensamento arqueológico no que tange à: relação entre plantas cultivadas, manejadas e domesticadas; processos de mudança nas estratégias de cultivo em sítios multicomponenciais; relação entre solos modificados e cultivo; e alguns apontamentos iniciais sobre mobilidade humana. Against the grain:Cosmologia vegetal, isolamento e contato no médio Purus (AM)Karen Shiratori Pesquisadora do CesTa/USP Pós-doutoranda do DA/USP Tomando como ponto de partida o episódio de um "falso contato" dos Hi-Merimã, povo indígena em isolamento que habita a região do médio Purus (AM), e a reação de seus vizinhos Jamamadi, esta apresentação propõe-se, por um lado, refletir sobre as perspectivas nativas acerca dos processos de "contato" e de "isolamento", bem como a política adotada pelo Estado destinada a povos isolados e, paralelamente, analisar a centralidade cosmológica atribuída ao universo vegetal, em especial, a pregnância prático-simbólica das plantas cultivadas e de certas palmeiras e árvores pelos povos de língua madi. Para tanto, abordo elementos da cosmologia e da escatologia vegetal Jamamadi e apresento o caso do manejo da palmeira patauá (Oenocarpus bataua) pelos Hi-Merimã, dada sua importância para o seu modo de vida e por servir de contraponto à perspectiva Jamamadi inconformada com a errância de seus parentes isolados. Neste contexto, pensar contato e isolamento é indissociável de uma reflexão sobre o lugar das plantas na socialidade destes povos, assim como dos conhecimentos e práticas agrícolas e de antidomesticação associados a seus modos de vida. Desta feita, destaco as indagações que orientarão esta apresentação: 1. Por que no episódio do "falso contato" os Jamamadi se preocuparam eminentemente em levar seus cultivares para os Hi-Merimã e o que isso nos diz sobre suas concepções sobre o isolamento e o contato? Esta questão se desdobra e anuncia a seguinte: 2. O equacionamento entre agricultura e sedentarismo em imagens preconizadas como ideais pelos Jamamadi seria radicalmente antagônico ou inconciliável às práticas de manejo não agrícolas desinteressadas na domesticação expressas no modo de vida Hi-Merimã? Sugestões de leitura: Gow, Peter. Me deixe me paz Sobre o filme "A história de sobrevivência dos últimos índios Piripkura": https://www.youtube.com/watch?v=dwSItos3bgs